Os sefarditas da Espanha e Portugal na Holanda - Parte 1
História dos judeus
Quando os Judeus foram expulsos de Portugal por D. Manoel, quando depois a inquisição começou de persegui-los, arrastando-os ou á morte lenta nas suas masmorras ou aos horrores das fogueiras, muitos haviam procurado refugio na Holanda, lá se haviam estabelecido, lá haviam erguido uma Synagoga que a muitos se afigurava maravilhosa e a todos titulo de nobreza e até mesmo de orgulho, ali haviam prosperado á sombra de leis benignas e tolerantes, constituindo um núcleo importante, vigoroso e solidário sempre nas suas horas de amargura, como nas de consolo e triunfo, ali conservavam saudosamente lembranças da pátria que os não quisera no seu seio, não esquecendo nunca a língua que no berço haviam aprendido.
A primeira ocorrência da chegada de Judeus á Holanda foi em Emden, cidade Alemã que faz fronteira com as terras Holandesas, na província de Oost-Fristand, quando entraram em relações com Mosseh Ury Levy e Aharon Ury Alevy, que sobre a porta da sua habitação tinham escrito “אמת ושׁלום יסוד העולם” ("A verdade e a paz são o fundamento do mundo"). Logo entraram em relações com essa família de correligionários, que os enviou a Amsterdam, onde se estabeleceram e prosperaram. Devia ser por 1598.
Calcula-se que o primeiro cuidado dos judeus chegados á terra que ia ser sua nova pátria seria o de fundar uma casa onde se reunissem para prestar culto a D’us, modesta, sem duvida, pois que nela não tinham a certeza de permanência e repouso, mas suficiente o bastante para as suas necessidades espirituais.
As condições, porém, favoreceram-nos. Os naturais do país viram chegar os foragidos não como criminosos que fugissem a merecidos castigos, mas como pobres e desventuradas criaturas, que nada mais pediam que a liberdade de professarem a religião de seus maiores. Olharam-nos com piedade. A região era vasta e fértil. Chegaram, pois, assentaram os seus arraiais naquela terra da promissão, naquela “Jerusalém do Norte” como desde os primeiros tempos logo começaram a apelidá-la. E foram chamando das terras abrasadas pelas fogueiras inquisitoriais os seus parentes, os seus amigos.
Foi por 1593 que os primeiros Marranos aportaram em Amsterdam, os quais, constituindo desde principio, como aliás era natural, um núcleo familiar e religioso, fundaram em 1598 a primeira Synagoga com o nome de “Beth Ya‘cob”, do nome de um dos fundadores — Jacob Tirado. Na inauguração da nova casa pregou Moyses Uri Levi, que falou em alemão, sendo o seu discurso traduzido para o espanhol por Aarão-ha-Levi [n. 1578]. Os rabinos desta comunidade, os chamados Hakhamim foram José Pardo [1597-1619] e Moyses ben Aroyo [1597]. Em 1616 foi eleito rabino Saul Levi Morteira.
Dez anos depois da primeira, levantava-se uma nova Synagoga. Era 1608 e foi Isaac Franco Medeiros o principal organizador. A nova casa recebeu o nome de “Neweh Shalom” e foram seus primeiros rabinos Judah Vega, Isaac Uzziel de Fez e Menasseh ben Israel.
Anda uma terceira congregação se formava em 1618 com o nome de “Beth Ysrael” sob a direção de David de Bento Osorio, sendo seus rabinos David Pardo, Samuel Tardiola e Isaac Aboab da Fonseca.
O levantamento destas casas traduzia a prosperidade dos judeus imigrantes e era um indicio evidente da tolerância com que haviam sido acolhidos.
Fonte:
Os judeus portugueses em Amsterdam - Joaquim Mendes dos Remédios, 1911.