Estamos em Devarim e Moshe continua passando todas as orientações para o povo acerca dos procedimentos que deveriam seguir ao entrar na terra que o Et-rno havia prometido.
Ki Tavó nos traz as Kelalot (maldições) que podem cair sobre o povo de Israel caso não cumprisse as mitsvot com satisfação. Devemos lembrar que a fartura da terra que emana leite e mel poderia fazer com que o povo simplesmente cumprisse as mitsvot por cumprir, sem adicionar a essas um elemento extra. E qual elemento extra seria capaz de acrescentar uma outra mitsvá independente ao mesmo ato? A alegria em cumprir a mitsvá é o elemento.
Rabenu Bachye afirma que a recompensa pelas mitsvot é acrescida pela recompensa da satisfação com a qual a pessoa cumpre a mitsvá. Se cumprirmos as mitsvot com ânimo, satisfação e alegria estaremos motivados a cumpri-las novamente.
O Sefer Charedim também alerta para o fato de encararmos as mitsvot como um presente de D.us, pois desse modo o Et-rno nos dá a chance, não só de cumprir as suas determinações, mas efetivamente de duplica-la em um só ato.
Essas reflexões nos remete a uma história; que determinado pai conversava com seu filho sobre a importância de desenvolver seus conhecimento de Torá. E o exemplo que o pai utilizou para o filho, dizia que um homem muito rico que a tudo possuía, via o mundo como uma grande vitrine de um shopping center. Esse homem , segundo o pai, dificilmente iria se atentar que na vida existem coisa que estão além do que os seus cinco sentidos podem experimentar. E que uma vida assim é uma vida vazia e superficial, por mais que materialmente fosse confortável e prazerosa. Viver sem grandes desafios materiais ou espirituais leva a uma vida fluida num consumismo nada frugal.
A Torá nos permite um mergulho profundo para analisarmos o que está abaixo da superfície, como também um salto gigantesco que nos leve para além do que os nossos olhos podem ver, durante o dia ou à noite, no céu ou no horizonte. Desse modo, através de uma percepção mais aprofundada, os detalhes ricos da vida podem emergir aos nossos olhos.
Em Ki Tavó o Et-rno nos reforça que na vida as motivações potencializam as ações. Um trabalho motivado, não é só um trabalho, mas um prazer, uma alegria. E esse é o segredo do sucesso e de uma vida feliz.
Durante o cumprimento da Mitsvá Habaat Habicurim a Mishná ( Massechet Bicurim) descreve o modo como ocorria a cerimonia: Um touro ornamentado ia à frente das pessoas enquanto uma flauta tocando ia mostrando o caminho a Jerusalém. Chama atenção a simbologia do Touro com os seus chifres cobertos de ouro e sua cabeça ornamentada por uma guirlanda de oliveira. O ouro no chifre simbolizava que o trabalho leva a prosperidade, e que só uma prosperidade baseada no trabalho é verdadeira. Os ramos de oliveira simbolizavam a luz da sabedoria e da ciência. Isso queria dizer que a prosperidade advinda do trabalho e do conhecimento não deveria produzir somente avanços materiais, pois ele é fictício, mas produzir também avanços espirituais. Só assim podemos manter um continuo e prazeroso contato com Hashem.
Fabio Fonseca
Referências. Nos caminhos da eternidade I. Rabino Isaac Dichi