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Então CompartilheQuanto você vale? Quanto vale o próximo? Valemos por inteiro ou pela metade do preço? Seu valor monetário é extrínseco ao outro? O outro de mim me valora por inteiro, ou sequer me valora? Quanto custa o lado de mim e o lado do outro? Esse valor vem de cima para baixo ou vice-versa? Ele vai e volta para mim e para o outro? O valor vai de uma parte à outra, da direita para a esquerda, de uma direção à outra como um palíndromo? A Perashá desta semana Ki tissá apresenta o valor que temos:
“E falou o Eterno a Moisés, dizendo: ‘quando receberdes a soma dos filhos de Israel, conforme seu número, dará cada um o resgate de sua alma ao Eterno, ao contá-los, e não haverá neles mortandade ao contá-los. Isto dará cada um que passa para o número dos que são contados: machatsít hashékel – metade de um siclo segundo o siclo da santidade – vinte guerás o siclo – a metade do siclo, oferenda separada será para o Eterno. Todo aquele que pelo número dos que são contados, da idade de vinte anos e para cima, dará a oferenda separada ao Eterno. O rico não aumentará e o pobre não diminuirá da metade de um siclo, para dar a oferenda separada ao Eterno, a fim de expiar pelas vossas almas. E tomarás o dinheiro da expiação dos filhos de Israel e o darás para o serviço da tenda da reunião e será para os filhos de Israel como memorial diante do Eterno para expiar vossas almas”. Shemôt – Êxodo 30:11-16 (Tradução do Rabino Meir Matzliah Melamed, 2001, p. 255).
Com o meio-Shékel, cujo prazo de pagamento ia do dia 01 até o dia 15 de Adar, Am Israel era contado, visto que não se pode contar pessoas por si próprias por causa do mau-olhado (Rashi) e para que não haja mortandade. Também era destinado para manutenção do Bêt haMikdash, para os korbanôt e para capará (expiação). Conforme o Ba’al haturím, a tríplice menção do meio-shékel na passagem supracitada da Torá, “lechapêr ‘al sheloshá devarím” – traz expiação por três coisas: “ ‘al hamilchamá vera’av vadâver” – pela guerra, pela fome e pela pestilência (2004, p. 882-883).
O costume de dar meio-Shékel continua em nossos dias, sendo empregado para o Estudo da Torá e para Medinat Israel, conforme explica o Rabino Meir Matzliah Melamed ZT”L, em seu comentário sobre Êxodo 30:12-13. Vale ressaltar que para contar um minián na sinagoga, é costume usar versículos contendo 10 palavras. Para o Rabino Aryeh Kaplan ZT”L, o meio-Shékel “era uma moeda de prata com o tamanho em torno de meio dólar” (2013, p. 440).
O Ba’al haturím explica que a expressão “e darão” – venatenú, em hebraico – é um palíndromo, lida da direita para a esquerda e vice-versa (tirando obviamente as vogais), sendo, portanto, o doar o palíndromo da mitsvá do meio-siclo. Noutras palavras, uma boa ação em que hoje a pessoa é doadora e amanhã ela pode receber uma doação e vice-versa, explicação trazida pelo Moré e Hazan Isaac Dahan (vídeo de 2019). Para o Ba’al haturím, esse palíndromo de venatenú denota que “ma sheAdam notên litsdaká iachazôr eláv velô iechsar lô bishvíl zé kelúm” – o que a pessoa dá para a tsedacá retornará para si e não faltará nada para ela por causa disso” (2004, p. 882).
Vale salientar que a doação do tempo a fim de ajudar/ouvir/aconselhar o próximo também é uma forma de tsedacá, mormente nestes tempos de apatia, egotismo, preconceito social e materialismo. Contudo, diante disso, como nos valoramos nesse palíndromo da mitsvá de meio-shékel? Ou uns valem mais do que os outros por causa da condição social, financeira com seus status quo inerente? Ou a comunidade de fulano é mais relevante do que a de sicrano? Somos meio-judeus pela metade do preço de outra moeda que não o nosso machatsít hashékel que nos torna inteiros?
(Des)valemos pela metade do preço da assimilação, das metades do “judeu-gentio” que supervaloriza seu componente gentílico de sua identidade em detrimento de seu componente judaico, como concebe Edgar Nahoum, vulgo Morin? A propósito, para Nahoum, tal nomenclatura vem designar judeus cuja "cultura judaico-gentílica é alimentada não mais pela Torá e pelo Talmude, mas por Montaigne, Cervantes, Shakespeare, Voltaire, Goethe, Tolstoi" (2007, p. 51). Ou valemos como inteiros invertendo essa ordem de valoração colocando a Torá como fonte primordial da nossa existência vital, social e espiritual? A propósito, Rambam, que também foi filósofo e médico, compreendia e exercia cotidianamente a ordem correta dessa valoração, mantendo a Torá em seu devido lugar central na vida judaica e também estudando as contribuições intelectuais do pensamento ocidental.
Em uma de suas cartas, o autor do Mishné Torá deixou patente: “A Torá é o meu amor e a ‘esposa’ da minha mocidade, na qual encontrei deleite constante. Mesmo assim, muitas ‘mulheres’ estranhas tornaram-se suas rivais: moabitas, amonitas, edomitas e hititas. Mas o D-us Todo-Poderoso sabe que, desde o início, elas foram trazidas [para a minha casa] com o único propósito de servir a ela [a Torá] como perfumeiras, cozinheiras e padeiras. Agi assim para mostrar às nações e seus governantes a sua formosura, visto ser ela ser muito bela” e termina sua carta dizendo pedindo para que o Eterno nos ajude “a estudar Sua Torá e reconhecer Sua Unicidade para sempre, para que em nossos tempos tenhamos a realização do versículo: ‘Na mente lhes imprimirei a Minha Torá e no seu coração a inscreverei’ (Jeremias 31:33) (1993, p. 100).
(Des)valemos pela metade do preço da política meramente humana acima da Halachá para deixar de fora os sinceros/criteriosos que têm a sua zéra dentro por causa de monopólios políticos e preconceito excludentes? Ou somos judeus completos pelo valor inteiro de Am Israel e da Lei Judaica que preconiza sua aceitação?
Indaga o Rav Menachem Diesendruck ZT”L (2011, p. 185): por que só meio-Shékel e não ele inteiro? Porque, segundo esse sábio de Torá, cada judeu, por ele mesmo, tem o valor só de uma metade. Somente quando ele se une com Am Israel, expressando Ahavat Israel com cada tipo de judeu, sem o asqueroso preconceito elitista, e HaShem, Seu D’us, é que ele se torna um judeu completo, inteiro, união imprescindível e vital para a nossa continuidade.
Shabat Shalom!
REFERÊNCIAS
A TORÁ VIVA – O PENTATEUCO E AS HAFTAROT. 2.ed., Trad. Adolpho Wasserman. Comentários de Rabino Aryeh Kaplan, São Paulo: Maayanot, 2013.
BA’AL HATURIM CHUMASH. PERUSH AL HATORAH. HEBREW/ENGLISH. SHEMOT/EXODUS, Vol. 2. Trad. Rabbi Eliyahu Touger, New York: ArtScroll, 2004.
TORÁ – LEI DE MOISÉS. Tradução do Rabino Meir Matzliah Melamed, Comentários do Rabino Meir Matzliah Melamed et al. 2.ed. São Paulo: Editora Sêfer, 2001.
DAHAN, Isaac. Perashat haShavúa Ki Tissá. Vídeo do You Tube.
https://www.youtube.com/watch?v=9j2-Gzp84Dg&list=LL&index=6 Acesso em 15 de fevereiro de 2022.
DIESENDRUCK, Menahem Mendel, Rabino. Sermões. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
MAIMÔNIDES, Moshé ben Maimon. Epístolas. Trad. Alice Frank. São Paulo: Maayanot, 1993.
MORIN[NAHOUM], Edgar. O mundo moderno e a questão judaica. Trad. Nicia Adan Bonatti. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
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