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Então Compartilhe"Fazer caridade e justiça é preferível ao Eterno que o sacrifício” (Provérbios 21:3)
Um médico atendia dois enfermos, diz-nos o midrash. Ao visitar o primeiro, após examiná-lo minuciosamente, pediu aos familiares que dessem ao doente tudo que o solicitasse, não lhe impôs regra alguma. Ao visitar o segundo, procedendo a análise, diferentemente de como fizera ao primeiro, receitou medicamentos e advertiu aos familiares que fossem cuidadosos com sua alimentação, impondo-lhes regras severas. Ao ver aquela situação, perguntaram-lhe: “por que ao primeiro doente o senhor permitiu que comesse de tudo e ao segundo impôs regras severas?” e o médico respondeu: “O primeiro não tem cura; o segundo, caso observe minhas recomendações, curar-se-á e viverá muito”.
A Parashá desta semana inicia com a seguinte ordem: “Juízes e oficiais designarás para ti em todas as tuas cidades que o Eterno teu D’us te der entre as tuas tribos, e julgarão o povo com retidão” (Deuteronômio 16:8). Ao nomear juízes capazes de instruir e julgar o povo com retidão, Moisés parece estar comportando-se como o médico. Se o povo de Israel souber ouvir os mandamentos e cumpri-los corretamente com o auxílio de juízes versados na Lei, viverá bastante. E eis que até aqui, entre tantos problemas que enfrentamos ao longo dos milênios, estamos de pé, vivendo.
Nossos sábios ensinaram que a justiça é mais importante que os sacrifícios, ratificando o que vemos nos Provérbios: “o que faz tsedaká é maior do que todos os corbanot” (Sucá 49b). Note que não se diz que a justiça é tão importante quanto os sacrifícios, mas mais importante que os sacrifícios. Isso, porque os sacrifícios duram enquanto existe o Templo, mas a justiça dura eternamente. Afirma o passuk “a justiça, e somente a justiça seguirás” (Deuteronômio 16:20). Numa só frase, duas vezes, enfaticamente, o termo tzédek (justiça) aparece, significando, dentre tantas outras coisas ensinadas por nossos mestres ao longo dos tempos, uma justiça dupla: a justiça para com o inocente, para que ele receba a paga por seus prejuízos e a justiça para com o culpado, para que, não só restitua o dano, mas também não seja punido além de sua culpa. Daí já se nota que praticar a justiça não é uma tarefa fácil, pois exige de cada um de nós uma compreensão perfeita de como se devem cumprir os mandamentos e ordenações entregues a nós no Sinai e, para tanto, é mister que tenhamos mestres e juízes capazes de interpretar a Lei de modo que encontremos o melhor modo de cumpri-la. Moisés estava tão preocupado com a prática da justiça que, antes mesmo de instituir um rei para seu povo, preocupou-se em nomear juízes para que esse povo compreendesse que um Estado livre só pode existir depois que os meios necessários para alcançar a justiça sejam instituídos.
Ensina-nos o Pirkê Avot: “Yehoshua bem Perachyá diz: Acate um mestre como seu superior; adquira um amigo para si, e julgue cada pessoa magnanimamente.” (1:6) E ainda: “Rabban Gamliel costumava dizer: Acate um mestre como seu superior e abstenha-se da dúvida” (1:16). Os Sábios basearam sua autoridade para legislar regras igualmente vinculantes com aquelas estabelecidas na Torá, nas palavras da própria Torá: "De acordo com a lei que eles te ensinarão ... tu deves fazer; tu não deves desviar-te da sentença que eles devem declarar a ti” (Deuteronômio 17:11). Assim aprendemos a importância de termos juízes e sábios no meio do povo. E quanta seriedade se dá na nomeação desses juízes!
Resh Lakish deduziu da proximidade das discussões sobre nomeação de juízes, em Deuteronômio 16:18, e a prática idólatra cananeia do Asherah, em Deuteronômio 16:21, que nomear um juiz incompetente é como plantar uma árvore idólatra.A busca pela justiça deve ser entre nós um compromisso diário. Um judeu, a cada minuto, está preocupado em fazer a justiça e não consegue se conformar com as injustiças de seu entorno, pois assim ordena a Torá do Eterno: "Justiça, justiça buscarás" (Deuteronômio 16:20). E o profeta Jeremias (21: 12) exorta: “Ó casa de Davi, assim diz o Eterno: 'Faça justiça pela manhã e livre os despojados das mãos do opressor”, significando que os juízes devem julgar somente se o julgamento que estão prestes a proferir for tão claro para eles como a luz da manhã.
E o que seria julgar com retidão? Shemuel bar Nahman ensinou em nome do Rabino Yonatan que os juízes devem sempre pensar em si mesmos como se tivessem uma espada pendurada sobre eles e o Guehinam aberto sob eles. É necessário que o juiz seja imparcial. E ser imparcial é considerar a situação alheia. É ter empatia. Mas não uma empatia que favorece este ou aquele, senão uma empatia capaz de deixar de lado o egoísmo, o pensar e ver o mundo a partir somente de suas próprias perspectivas. Sobre isso, afirma Rabi Yonatán Eibeschuetz (1690-1764) que o coração de um verdadeiro mestre não deve nunca se deixar endurecer, cuidando somente de seu ego, mas deve procurar viver ativamente os problemas de sua comunidade. Ele não pode se deixar isolar em si mesmo. É preciso deixar de lado os próprios interesses!
Rabi Yehudá diz: “não lhe mostrarás simpatia se ele for teu conhecido”, Rabi Elazar diz: “não o afastarás” e Rashi diz: “não deves considerá-lo como sendo um estranho, se for teu inimigo, e por isso condená-lo.” (San’hedrin 7b). Rabi Shemuel estava prestes a atravessar sobre um rio, quando um homem veio a seu encontro e ofereceu ajuda. O Rabi então perguntou: “por que me queres ajudar?” e o homem respondeu: “Tenho um processo no tribunal”. Ao que Rabi Shemuel retorquiu: “Neste caso, saiba que estou proibido de julgar sua causa”.
O bom juiz não julga por seu coração, pois que este possui ampla gama de capacidades adicionais relatadas no Tanach. O coração fala, vê, ouve, anda, cai, fica de pé, se alegra, chora, é consolado, está com problemas, fica endurecido, sofre, tem temores, pode ser quebrado, torna-se orgulhoso, rebelde, inventa, cavila, transborda, inventa, deseja, se perde, cobiça, é revigorado, pode ser roubado, é humilhado, é seduzido,erra, treme, é despertado, ama, odeia, inveja, é pesquisado, é alugado,medita, é como um fogo,é como uma pedra, se arrepende, morre, derrete, toma em palavras, é suscetível temer, agradece,cobiça, torna-se difícil, torna-se alegre, age enganosamente, fala de si mesmo, ama subornos, escreve palavras, planeja, recebe mandamentos, age com orgulho, faz arranjos e se engrandece. O mesmo coração que escuta a voz do Eterno confunde a voz do Eterno com a sua própria ambição e desejo.
Lendo Deuteronômio 17:8-10, vemos como deve agir o bom juiz: “se surgir uma questão muito difícil para você no julgamento, entre sangue e sangue, entre súplica e súplica, entre aflição e aflição... Você deve fazer de acordo com a sentença que eles declaram a você”. Ou seja, o julgamento deve ser detalhado, distinguido e discutido pelo método da Tradição, e não pelo coração, tampouco apenas pelo método da demonstração lógica da razão.
A Parashá desta semana traz uma série de regras, as quais, de acordo com Sefer ha-Chinuch, somam 14 mandamentos positivos e 27 negativos:
Nomear juízes (16:18);
Não plantar uma árvore no santuário (16:21);
Não erguer uma coluna em um local público de culto (16:22);
Não oferecer um animal temporariamente manchado (17:1);
Para agir de acordo com a decisão do Sinédrio (17:11);
Não se desviar da palavra do Sinédrio (17:11);
Para nomear um rei de Israel (17:15);
Não nomear um estrangeiro (17:15);
O rei não deve ter muitos cavalos (17:16);
Não morar permanentemente no Egito (17:16);
O rei não deve ter muitas esposas (17:17);
O rei não deve ter muita prata e ouro (17:17);
O rei deve ter uma Torá separada para si mesmo (17:18);
A tribo de Levi não deve receber uma porção da terra em Israel; antes, eles recebem cidades nas quais habitar (18:1);
Os levitas não devem participar dos despojos de guerra (18:1);
Para dar o ombro, duas bochechas e estômago de animais abatidos para um Cohen (18:3);
Para reservar o dízimo para o Cohen (Terumá Gedolá) (18:4);
Para dar a primeira tosquia de ovelhas a um Cohen (18:4);
Os turnos de trabalho dos sacerdotes devem ser iguais durante as férias (18:6-8);
Não entrar em transe para prever eventos (18:10);
Não realizar atos de magia (18:10);
Não murmurar encantamentos (18:11);
Não consultar um médium (ov) (18:11);
Não consultar um mago (yidoni) (18:11);
Não tentar contatar os mortos (18:11);
Para ouvir o profeta falando em nome de D’us (18:15);
Não profetizar falsamente em nome de D’us (18:20);
Não profetizar em nome de um ídolo (18:20);
Não ter medo de matar o falso profeta (18:22);
Designar cidades de refúgio e preparar vias de acesso (19:3);
Um juiz não deve ter pena do assassino ou agressor no julgamento (19:13);
Não mover um marcador de limite para roubar a propriedade de alguém (19:14);
Não aceitar o depoimento de uma única testemunha (19:15);
Para punir as falsas testemunhas enquanto tentavam punir o arguido (19:19);
Para não entrar em pânico e recuar durante a batalha (20:3);
Nomear um padre para falar com os soldados durante a guerra (20:5);
Oferecer termos de paz aos habitantes de uma cidade durante o cerco e tratá-los de acordo com a Torá, caso aceitem os termos (20:10);
Não permitir que nenhum dos povos das sete nações cananeias permaneça vivo (20:16);
Não destruir árvores frutíferas mesmo durante o cerco (20:19);
Para quebrar o pescoço de um bezerro no vale do rio apósum assassinato não resolvido (21:4);
Não trabalhar nem plantar aquele vale do rio (21:4).
E por que o Eterno nos traz tantas regras? Por que eleger juízes? Por que tanto rigor em cumprir Sua Lei sem desviar, conforme nos ensinam os juízes? Por que Moisés preocupou-se primeiro em nomear juízes, antes mesmo de eleger para o povo um rei? Todas essas rigorosas regras têm um único objetivo: PARA QUE VIVAS! Assim como o médico citado no início deste texto, o Eterno olhou para seu povo e viu nele potencial para transformar tudo aquilo que Ele criou para ser feito. O Criador olhou para Israel e não viu nele o prenúncio da morte, mas o potencial da vida e, por isso, nos deu uma gama de regras para que vivamos. Afirmou o Rabino Newman de Nova Iorque que “sem justiça não pode haver vida, quer para um grupo, quer para um indivíduo”. Um mundo sem regras, um mundo sem a justiça, seria um completo caos, uma completa distopia, na qual ninguém conseguiria viver, no qual, não a vida, mas a morte reinaria.
É, pois, pela justiça, pelos atos de justiça, pelas boas e retas instruções que o povo alcança a vida. Que possamos, nesta semana, firmar este ideal: praticar sempre a justiça! Ainda que seja um pouco a cada dia, mas praticar a justiça. Assim, “o meu povo conhecerá o meu nome; portanto saberão naquele dia que eu, sim, Aquele que falou, eis que aqui estou.” (Isaías 52:6). Pois somos o povo a quem o Eterno escolheu para sermos sinal de justiça no mundo, para fim de que essa justiça se espalhe pelos quatro cantos do mundo e, em breve, possamos, pela prática da justiça, ter novamente os serviços ativos no Bet Hamikdash e, assim, seremos um e o Nome será Um em toda a Terra.
Chôdesh Elul Tov!
Shabat Shalom!
Leandro Silva
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